top of page

Moda com tempero baiano


Com apenas 29 anos o baiano Isaac Silva nascido na cidade de Barreiras, apresentou seu primeiro desfile na Casa de Criadores no dia 16 de outubro. Procurei-o para nos dar uma entrevista exclusiva e nos contar um pouco mais sobre sua carreia, e conhecer a fábrica da marca. O resultado dessa entrevista segue na integra nas próximas paginas.

Como surgiu seu interesse por moda?

Bom, tinha uma costureira na frente da minha casa lá na Bahia chamada Morena, então eu cresci vendo-a fazer roupas, e foi assim que comecei a tomar gosto pela moda. Eu sempre gostei de desenhar, desde criança, mas até então, nunca tinha pensão em ser estilista, eu sabia que queria fazer algo ligado a arte, inclusive, teve uma época em que cheguei a pensar na possibilidade de estudar cinema, mas foi só depois disso que pensei estilismo como profissão.

É evidente para nós que a moda é um meio de comunicação, mas queria saber de você, como se dá o processo de passar para o papel todas as suas idéias?

Pois é (risos), é exatamente isso que me fascina no mundo da moda, o poder que a gente tem de expressão e comunicação, de passar uma mensagem, de passar uma idéia pro papel e depois poder dar vida aquilo. Eu gosto de usar uma linguagem bem brasileira, sabe, gosto de falar de tema da gente, e isso ficou bem claro no happening que fiz na 37ª edição da Casa quando apresentei roupas inspiradas nas baianas do acarajé, e em Oxalá, usei também referências do guarda-roupa antigo das mulheres, buscando dar uma nova roupagem pro que já existia e as mulheres gostavam. É claro que, além da criatividade precisa estudas conceitos também, fazer pesquisas, e tentar chegar o mais próximo possível do que as pessoas vão querer usar na próxima estação.

Como é feito esse tipo de pesquisa, existe alguma formula, ou quem faz tem quem ter o olhar mais sensível pra identificar e, interpretar o que está acontecendo?

Então..., o método de pesquisa é algo muito individual, cada estilista faz de um jeito, eu particularmente, gosto de observar sabe, de sair e ver o que as pessoas estão vestindo, de ler revistas diferentes, e de pesquisar.

Hoje em dia, por exemplo, eu percebo que a mulher negra tem sido mais representativa, a mulher negra quer estar na capa das revistas, quer aparecer na televisão, e hoje, mais do que nunca ela defende esse direito que também é dela, tanto é verdade que o emponderamento é algo cada vez mais visível, no sentido de que a mulher branca hoje, quer se vestir como a negra, quer usar o cabelo da mesma maneira que a negra usa, da mesma forma que acontecia antes, porém de maneira inversa. Eu vejo isso como uma oportunidade pra mim, porque vou poder usar e abusar das estampas étnicas, das cores vibrantes, o que valoriza ainda mais a beleza negra, contudo, ainda é difícil entrar e se firmar no mercado da moda com essas propostas, isso porque ainda é um desafio enorme romper com as barreiras do preconceito, entende, a mídia não vai aceitar tão facilmente ver desfilando mais, ou em quantidade igual, modelos negras que brancas, e tampouco fazer capas de revistas, ou o que quer que seja com modelos negras na mesma proporção que com as brancas.

Como foi pra você entrar nesse mercado competitivo que é o mundo da moda, trazendo a brasilidade para as passarelas?

Primeiramente eu busque levar a brasilidade, porque a final de contas estamos no Brasil, um pais tão cheio de cultura..., e eu vi aí um nicho pois são poucos os estilistas que fazem isso, por exemplo, o Ronaldo Fraga, a Fernanda Yamamoto, a Cavalera também faz..., mas eu busco sempre trabalhar em cima de temas da nossa cultura, porque é o que eu conheço, porque eu falar de algo que eu não conheço, além de ser difícil, para mim é algo vago, eu não vivencio aquilo. Mas no começo foi muito difícil entrar, não vou mentir (risos), até porque o que todo mundo vê é a parte do glamour, os desfiles, as pessoas todas linda e tomando champanhe (risos), mas antes disso você passa o ano todo comprando tecido, costurando, fazendo corte, você passa o dia com modelista, tem que receber modelos, outra coisa fundamental é ter noções de administração também, pra fazer a fábrica andar, coisas que também são prazerosas, mas a pessoa que quer seguir na área tem que ter pulso firme pra dizer, é isso o que eu quero e seguir em frente.

Você planejou a vinda para São Paulo, como foi isso?

(risos) Vir para São Pulo foi algo planejado sim, na verdade eu ainda estava estudando em Salvador quando decidi isso, porque eu sabia que o lugar com maior campo para os profissionais de moda era São Paulo, então desde o inicio da faculdade eu já tinha isso em mente, e hoje já faz seis anos que moro aqui.

Qual é a sua concepção de moda, e como você faz para que as pessoas usem sua marca?

Assim (risos) existe uma grande diferença, porque existem as tendências, que é o mercado quem dita, são coisas do tipo, cores, cortes, modelos, e estampas. E existe o processo de criação de uma marca, que ai sim entra a criatividade e a originalidade, o estilista tem que ter um DNA próprio, o meu é a brasilidade.

Sobre as roupas, como é que você faz pra poder vender tudo aquilo que foi visto nas passarelas?

Ah então, no happining eu já mostrei peças comerciais, qualquer um que quisesse usar aquelas roupas conseguiria, já nesse desfile de inverno, eu apresentei uma coleção bem lúdica, algo muito conceitual, então pra fazer vender, e todo mundo usar eu vou ter que trabalhar mais ainda em cima daquelas peças, vou ter que deixar a coleção o mais usual possível, porque pra alguém segurar um look que sai direto das passarelas nas ruas é muito difícil.

Pra você, o que é a comunicação dentro do mundo da moda?

O modo como nos vestimos por si só já faz o papel de veiculo de comunicação, por que a roupa carrega com ela uma história, uma emoção, uma cultura, e muitas vezes até um habito. Além disso, hoje o setor têxtil é o segundo que mais emprega pessoas, muitas das empresas têm uma função social também., então, é muito difícil dizer que a moda tem tal função, isso não existe a moda hoje em dia é algo universalizado, todo mundo se envolve com moda de maneiras diferentes inclusive.


Posts Em Destaque
Posts Recentes
Arquivo
Siga
  • Facebook - Black Circle
  • Instagram - Black Circle
bottom of page